O cristão deve se envolver na política? Por Dom Luiz Antônio Cipolini

O presidente da República e governadores dos Estados, políticos para o Poder Executivo, os deputados estaduais, federais e parte do Senado, políticos para o poder Legislativo, serão escolhidos, através do voto, em outubro deste ano. Será que os cristãos, eleitores e candidatos, devem envolver-se no exercício da cidadania ativa, para a definição dos rumos que o Brasil deverá trilhar? Ouçamos o que nos diz um importante documento do magistério eclesial: “Todos os cristãos tenham consciência da sua vocação especial e própria na comunidade política; por ela são obrigados a dar exemplo de sentida responsabilidade e dedicação pelo bem comum” (Gaudium et Spes, n. 75).

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho” (EG), fala de maneira incisiva da dimensão social da ação da Igreja (Capítulo 4o.). Trata-se de ir às implicações comunitárias e sociais da fé cristã: “No próprio coração do Evangelho aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros” (EG 177). Isso não significa apenas promover obras de assistência social em favor dos desvalidos, sem dúvida, necessárias, mas ir além, isto é, ter diante de nós um projeto para o Brasil. Este Projeto deve ser construído através dos princípios da justiça, da dignidade humana e da solidariedade social, conforme nos orienta a Doutrina Social da Igreja.

O Evangelho, base para a fé dos cristãos, propõe uma relação pessoal com Deus, mas também pede relações novas e coerentes com o próximo. A resposta de fé e amor a Deus, da parte das pessoas, “não deveria ser entendida como a mera soma de pequenos gestos pessoais em favor de alguns indivíduos necessitados, uma espécie de ‘caridade por receita’, nem também como uma série de ações destinadas apenas a apaziguar a consciência. A proposta cristã é o Reino de Deus (cf. Lc 4,43): trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que ele reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz e dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais”(EG 180).

Após afirmar que não se pode limitar a religião ao âmbito privado, “Apenas para preparar as almas para o céu”, o Papa afirma: “Ninguém pode exigir que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG 182). Os cristãos têm muito a contribuir para o convívio social e não devem omitir-se, nem ser impedidos de participar e de envolver-se generosamente nessa tarefa.

Recomendo que todos tomem conhecimento dos materiais importantes para a preparação às eleições de 2014: a) O texto Projeto Brasil, aprovado na Assembléia Geral dos Bispos, que tem como objetivo principal refletir a situação do Brasil e abrir horizontes para melhorar nosso país, projetando-o para frente, com esperança; b) Os vídeos, Eleições 2014, através dos quais, com novas linguagens, os grupos e comunidades, alinhados com os tempos atuais, podem se preparar para eleger bem seus representantes; c) A Cartilha “Seu voto tem consequências: um novo mundo, uma nova sociedade”; d) Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre a Reforma Política, para o qual estão sendo coletadas um milhão e meio de assinaturas.

Que o Espírito de Deus nos ajude a saber ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, nos preparando para cumprir o dever de votar, de modo consciente, consolidando a democracia brasileira.

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